Livro Vestígios da Memória – Fotografias do Patrimônio Arquitetônico Paulista

O livro de imagens e história Vestígios da MemóriaFotografias do Patrimônio Arquitetônico Paulista traz 33 fotografias em preto e branco de edificações representativas de diferentes estilos, espalhadas ao longo de cinco séculos, em 27 cidades de diferentes tamanhos no estado, feitas por 19 profissionais.

Algumas são edificações icônicas, conhecidas nos municípios enfocados, mas não necessariamente as tombadas ou preservadas. Uma das metas do projeto da Illumina é o incentivo à reflexão da opinião pública sobre as vantagens da conservação do patrimônio cultural.

Convidados pelas organizadoras, a historiadora Ana Lúcia Queiroz e a fotógrafa Márcia Zoet, os fotógrafos puderam destacar algo do passado arquitetônico dos municípios paulistas, sem um roteiro pré-definido. Esta é a quarta obra da pesquisadora em parceria com a produtora cultural – todas elas têm como marca o incentivo ao resgate e à valorização da cultura brasileira.

Vestígios da Memória – Fotografias do Patrimônio Arquitetônico Paulista

Com liberdade para usar a criatividade e escolher a técnica, Delfim Martins (prêmio Internacional Nikon, Japão), Ed Viggiani (prêmio The Mother Jones International Fund for Documentary Photography, EUA), Epitácio Pessoa (Prêmio Esso de Fotografia) e Mônica Zarattini (Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos) olharam para as cidades (respectivamente Presidente Prudente, Ribeirão Preto, Sorocaba e Guarulhos) buscando registrar o que mais lhe atraísse.

Edifício Martinelli, São Paulo / Foto: Márcia Zoet / Illumina

Cada imagem já fala por si só e é acompanhada por comentários dos autores, entre eles Chico Ferreira, Denise Guimarães e Lucas Lacaz Ruiz, sobre o momento da sua realização e seleção.

Os relatos, que trazem o como, o porque e o quando, além da sensação de estar ali, também ajudam a proteger, como se fosse com tijolos e argamassa, a memória das estações, cinemas, fábricas, casas e escolas paulistas.

“Quando o prédio do Detran passou a ser sede do MAC–USP, fotografei em 2014 suas emblemáticas colunas. Depois descobri que o autor Oscar Niemeyer teve sua proposta de restauração recusada por não respeitar as regras de tombamento. Achei engraçado”, conta o fotógrafo Paulo Rapoport, autor da imagem do prédio de 1954, que foi sede da Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo na capital.

A cidade de São Paulo está outras vezes presente. A Casa do Sítio Tatuapé (1698) foi retratada por Luludi Melo, que também assina a imagem da Escola das Meninas (1920), hoje abandonada na Vila Maria Zélia, primeira vila operária do Brasil, tombada em 1993. Márcia Zoet escolheu a Casa das Caldeiras (1924) e a antiga residência da família Álvares Penteado (1917), onde hoje funciona a pós-graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – USP, em Higienópolis.

Foi lá que Chico Buarque começou a tocar seu violão e que aconteceu o conhecido debate sobre tropicalismo, quando um grupo de estudantes contrários à ideia vaiou e atirou bombinhas e bananas em Caetano, Torquato Neto, Décio Pignatari e Gilberto Gil. O edifício Martinelli (1929) também foi contemplado por ela.

“Em 2009, o fotografei para um projeto autoral sobre ícones da cidade. Já tinha passado inúmeras vezes por ele, ido ao terraço, mas nunca tinha parado para retratá-lo. Fiquei um tempo analisando como fazer a foto. Optei por enquadrar o relógio em primeiro plano”, conta Márcia Zoet.

Cada uma das edificações clicadas ganhou também texto sob a medida da Ana Lúcia Queiroz com fatos e curiosidades sobre a construção, região e período histórico, facilitando o entendimento do leitor sobre a sua importância cultural.

“A ideia é ajudar o público a compreender o patrimônio arquitetônico como um documento, estimulando a reflexão sobre a rede de vestígios, pistas para melhor conhecer a história que eles carregam”, afirma.

A edificação mais antiga incluída na obra, a Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande (1584), no Guarujá, foi registrada por Marcos Piffer (prêmios Fundação Vitae e Estímulo), autor de nove livros de fotografia e com imagens nos acervos permanentes do Masp, MAM, Itaú Cultural, MAC e MIS.

“Abandonada durante muito tempo, ela viu árvores crescerem por entre pedras, e uma delas bem ao lado de uma das guaritas. Foi esta relação entre a história ou o patrimônio abandonado, a natureza e a cidade de Santos, que aparece ao fundo, que busquei ao realizar a imagem”, conta o fotógrafo e professor Marcos Piffer.

Com projeto do arquiteto Igor Sresnewsky, inspirado no auditório do parque Damrosch, em Nova York, e no estudo da acústica dos teatros gregos, a construção mais recente, o Auditório Beethoven, inaugurado em 1976 em Campinas, foi registrado por Mauricio Simonetti, fotógrafo com produção pessoal centrada em imagens de natureza, meio ambiente e paisagens urbanas, integrando coleções do Masp, Itaú Cultural e MIS.

As escolhas de todos os fotógrafos, dentre eles Alessandro Celante (que selecionou ponte em Jundiaí), Daniel Cymbalista (complexo ferroviário de Santo André) e Eduardo Zappia (teatro de São João da Boa Vista), foram conduzidas por estímulos singulares, pelo olhar editando detalhes que via.

Algumas edificações estão preservadas, outras abandonadas, mas todas estão repletas de significados simbólicos, que ajudam a entender melhor a história paulista.

Estruturado a partir dessa visada fotográfica e organizado segundo a cronologia da origem das edificações, o livro salienta o século XX, com mais de vinte retratos reveladores sobre o dinamismo da época, como o de Pierre Duarte (Igreja Santa Rita de Cássia, 1960, Fernandopólis); o de Angelo Cardoso (depósito de locomotivas, 1921, Araçatuba); Guilherme Silva (catedral de Santana, 1952, Mogi das Cruzes); e o de João Prudente (que clicou a escola Doutor Júlio Cardoso, erguida em 1924, em Franca).

A produtora cultural Illumina vai doar 300 exemplares para as escolas estaduais de ensino fundamental das cidades representadas no livro. O projeto Vestígios da Memória Fotografias do Patrimônio Arquitetônico Paulista foi contemplado pelo Pronac 148103, Lei de Incentivo à Cultura, tem patrocínio do Grupo Segurador Banco do Brasil Seguros e Mapfre Seguros e apoio do Sindicato dos Corretores de Seguros no Estado de São Paulo (Sincor).

Vestígios da MemóriaFotografias do Patrimônio Arquitetônico Paulista
https://www.facebook.com/vestigiosdamemoria
Organização Ana Lúcia Queiroz e Márcia Zoet
Illumina – Imagens e Memória

Jardins SP

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